Tapeceiras têm linha direta para Paris
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Fazendo o caminho de volta, as tapeceiras de Espraiado, que aprenderam a arte de bordados em tapeçaria com a marroquina Madeleine Colaço, estão prestes a expor seus produtos em Paris, em uma feira de negócios ligados à moda, em setembro. Depois do sucesso nas duas mais recentes edições do Rio Prêt-à-Porter, em janeiro e junho, as artistas preparam as bolsas que vão representar o Brasil, com estampas que mostram toda a beleza da fauna e flora tupiniquins, além da bucólica e brejeira natureza de Maricá.
Das mais antigas e ativas tapeceiras, Ilma Macedo da Costa, de 60 anos, Vera Lúcia Bastos Mendonça, 59, e Maria de Lourdes Pereira da Silva, 53, contam com apoio do Sebrae para que a atividade vença as barreiras e o mercado da moda internacional.
“Da época que a Madeleine começou não tem mais ninguém. Hoje somos um grupo de cinco mulheres que lutam para mostrar a arte da tapeçaria em todo o mundo e entrar no mercado competitivo da moda. No nosso setor, nós somos as únicas que trabalhamos com o ponto brasileiro. O Sebrae disponibilizou um design de moda para nos ajudar na elaboração das bolsas. Hoje nós temos encomendas individuais e depois de Paris, a nossa expectativa é poder vender para um mercado maior”, planeja Ilma Macedo.
Combinada à criatividade, a técnica que deu origem a um traço peculiar do folclore e da vegetação brasileira merece uma escola para perpetuar,definitivamente, o trabalho das artistas.
“Depois que a Madeleine ensinou às pessoas mais velhas, uma foi passando para a outra e hoje poucas se dedicam como nós nos dedicamos. É um trabalho que exige tempo e paciência. Existem peças que demoram meses para serem concluídas, caso sejam feitas por uma só pessoa. Por conta disso é que muita gente não tem paciência de entrar nesse ramo. É por isso que eu acho que tem que ter uma escola para ensinar às crianças daqui e até mesmo às pessoas mais velhas, para que essa arte não se perca”, deseja Maria de Lourdes Pereira.
Com a grife criada por Madeleine, ao longo do tempo, as tapeceiras adquiriram toda a experiência necessária para, um dia, alçarem voos longos e próprios através dos bordados surgidos da união do talento, claro, e das linhas de bordar, lã, agulha, juta e etamine.
“Eu fico muito feliz de de poder apresentar o nosso trabalho porque é um reconhecimento de tantos anos de trabalho. Eu sonhava com isso, de ter o nosso nome mundo a fora”,comenta Vera Lúcia Bastos.
Por se tratar de um produto tão exclusivo e de técnica apurada, um tapete de 1,75 metros quadrados leva, em média, três meses para ser concluído,quando há participação de mais de uma pessoa, valorizando, dessa forma, o preço da peça. De acordo com Ilma Macedo, nas duas exposições no Rio Prêt-à-Porter, 24 peças foram comercializadas. Dependedo do exemplar, o valor pode chegar a R$ 4 mil.
O Sebrae São Gonçalo informou que as tapeceiras passaram por um processo de curadoria da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção (Abit) e tiveram seus produtos aprovados, e aguardam a resposta sobre a legalização jurídica do grupo, que deve sair no meio desta semana.
Quem foi Madeleine Colaço
Madeleine Matthew Bonnet, nasceu em Tanger, no Marrocos, em 1907. De pais franco-americanos, casou-se em 1928 com o escritor e jornalista português Thomaz Ribeiro Colaço e, em 1940, o casal transferiu-se para o Brasil, fugindo da ditadura de Salazar.
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Estudou a arte da tapeçaria no Marrocos, na França, na Inglaterra e em Portugal, criando um ponto bordado batizado por Marie Cutolie de Ponto Brasileiro.
Naturalizada brasileira, Madeleine Colaço teve sua técnica registrada no “Centre Internacional de la Tapisserie”, na Suíça e, em 1963, pela primeira vez, expôs suas tapeçarias bordadas no Rio de Janeiro e, desde então, realizou inúmeras exposições individuais e coletivas no Brasil, Estados Unidos e principalmente na Europa. Maior nome da tapeçaria brasileira, ela faleceu em 2001, aos 94 anos de idade.
(Fonte: O São Gonçalo)