Maricá

É ilegal, é imoral ou engorda?

Prof. Adilson Pereira
Há meses, uma reunião em Itaipuaçu evidenciou pastores evangélicos oferecendo seus préstimos em troca da criação do “Conselho dos Pastores”. Entre outras atribuições, o tal Conselho garantiria a participação dos líderes religiosos no Orçamento Municipal de 2011, proposto pelos próprios, segundo postagem no site da prefeitura. Após nossa matéria, sob o tema: “Conselho dos Pastores: prioridade ou oportunismo?”, o assunto foi intensamente abordado pela sociedade.
À época, fui procurado por líderes e membros de diversas denominações religiosas que apresentaram as mais variadas opiniões, com indignação de ampla maioria, mostrando quão complexa era a questão. As divergências foram tantas, que a polêmica ainda persiste.
O assunto voltou à tona quando um jornal local noticiou que a prefeitura teria patrocinado a virada de ano em determinadas igrejas, com direito até a funk gospel, chegando à cifra de R$ 12 mil, provenientes dos cofres públicos. Na tentativa de criação do “Conselho dos Pastores”, o questionamento baseava-se na “moralidade” do ato, considerando a ligação política x religião. Agora, as dúvidas pairam sobre a “legalidade” da situação. Vejamos o que diz a Lei Orgânica de Maricá:
Art. 52 – Ao Município é vedado:
I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, tratá-los em desigualdade, privilegiando alguns, embaraçar-lhe o funcionamento ou manter com eles, ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.
O Ministério Público nos responderá qual a colaboração de interesse público, na forma da lei, dos R$ 12 mil à virada de ano de instituições religiosas escolhidas a dedo.
Semanas depois, novas reuniões foram protagonizadas entre o alcaide e líderes evangélicos. Considerando ser muito mais fácil esconder-se atrás de um discurso eloquente do que assumir com honestidade seus atos e suas responsabilidades sociais, alguns se apressaram em afirmar que o objetivo era apenas fornecer “orientação espiritual” às decisões governamentais. Pessoalmente, não acredito na necessidade de orientação espiritual para que a verba da saúde seja aplicada na saúde, nem para que a verba da educação seja aplicada na educação. O que precisa é de vergonha na cara e respeito com o dinheiro público.
Em determinado momento, alguns discípulos de Cristo debateram sobre quem merecia, entre eles, a posição de maior destaque. Dois mil anos depois, muitos líderes cristãos ainda fazem manobras em busca de posição e proeminência na igreja, nas denominações religiosas e nas “organizações político-eclesiásticas”. O apóstolo Paulo pedia atenção ao tema quando afirmou que “se ainda estivesse procurando agradar a homens, não mais seria servo de Cristo”. Pegando carona nesta ideia, presenciamos denominações cristãs elaborando seminários que nos ensinam a liderar, mas nunca elaboraram seminários que nos ensinam a servir, deixando dúvidas sobre o verdadeiro propósito cristão. O conceito de “Liderança Baseada no Serviço” (Servant Leadership) mostra que as grandes oportunidades estão normalmente camufladas em tarefas menores. O maior líder não é aquele capaz de governar o mundo, mas o que é capaz de governar a si mesmo.
Será que presenciaremos pastores concorrendo a cargos eletivos na mesma chapa de cachaceiros e macumbeiros, como grandes e velhos parceiros? Será que veremos pastores sendo “presenteados” por autoridades públicas, em troca de apoio político, descaracterizando por completo o sentido e “a alegria de ser igreja”? A desilusão com alguns que se dizem líderes é uma realidade, destruindo nossas falsas expectativas de perfeição e confirmando que não há nenhum justo sobre a terra, nenhum sequer. É triste constatar que, no rebanho de Deus, as maiores feridas sejam causadas pelos que se dizem ovelhas, e não pelos lobos. Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vem até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Sugiro a leitura de “Ez 34:1-10”.
Talvez eu esteja completamente enganado. Esta união pode ser puramente por desapego à discriminação. Cristo deixava claro seu apelo à igualdade social jantando na casa de coletores de impostos, a “raça” mais odiada pela cúpula judaica (qualquer semelhança com Maricá é mera coincidência).
A integridade é construída quando derrotamos a tentação da desonestidade. Não podemos evitar que os pássaros voem sobre nós, mas podemos evitar que façam ninho em nossas cabeças. Invariavelmente, o que começa como uma ideia, termina como uma conduta.
Pai, perdoa-os… Eles “sabem” o que fazem.

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