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Dona de creche suspeita de agressão em Maricá vai responder por maus-tratos

Do G1

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Criança amordaçada em creche clandestina.
Foto: Reprodução

O delegado José William de Medeiros, titular da 82ª DP (Maricá), afirmou na tarde desta terça-feira (17) que Rosane de Oliveira Ferraz, de 43 anos, suspeita de agredir as crianças que cuida em uma creche, em Maricá, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, vai responder por maus-tratos. Ainda segundo ele, Rosane ainda não é considerada foragida.
“Não há um flagrante, então ela (Rosane) não pode ser presa. Ela já foi chamada até aqui na delegacia para prestar esclarecimentos. Em princípio a gente lida apenas como maus-tratos numa creche. Agora, se vai se configurar tortura, só depois dos exames e de todos os depoimentos. Todo mundo que estiver dentro do quadro existente será ouvido”, disse.
O caso veio à tona após a divulgação de fotografias onde duas crianças, uma de 11 meses e outra de 1 ano e dois meses, aparecem amordaçadas e com os braços amarrados. As fotos foram feitas pela filha de Rosane, de 14 anos, e teriam sido entregues às mães. A menina teria sido coagida pela mãe a assumir a culpa.

“O procedimento foi registrado há pouco tempo e as fotos nos dão a certeza da existência de alguma coisa irregular, agora no que tange tortura, veremos com os depoimentos. Ainda vamos encaminhar o material para perícia e aguardar o resultado dos exames de corpo de delito que foram feitos nas crianças”, disse o delegado.
Num primeiro depoimento, de acordo com o delegado, a filha adotiva de Rosane teria contado que fez as fotos para denunciar a mãe. Segundo ela, Rosane torturava as crianças, dava comida ainda quente e crua, aplicava produtos químicos no corpo delas e agredia com tapas, socos e xingamentos. A menina disse que também era agredida.
No entanto, de acordo com o delegado, após a divulgação das fotos, a adolescente prestou um novo depoimento voltando atrás e dizendo que armou toda a situação para que a mãe perdesse a creche e desse mais atenção à ela. Segundo José William, a menina disse que se sentia abandonada e tinha ciúmes da mãe com as crianças.
“Ela (filha adotiva) conta que vive uma crise existencial porque ela é filha de criação da proprietária da creche e arquitetou isso de forma a prejudicar a mãe para tirar as crianças de dentro de casa e a mãe passar a dar mais atenção a ela e ao irmão. Mas existe uma outra possibilidade de que a mãe teria a obrigado vir na delegacia e assumir a culpa dos atos”, afirmou o delegado.
‘Creche era clandestina’, diz delegado
Até esta terça, dez pessoas já tinham sido ouvidas sobre o caso. O delegado afirmou que ainda não há um mandado de prisão expedido contra a proprietária da creche, mas ele adiantou que, além de maus-tratos, ela também vai responder por exercício ilegal da profissão, já que o estabelecimento funcionava sem alvará há pelo menos 15 anos: “A creche era clandestina, totalmente clandestina, não é legal”, completou José William.
A creche fica em São José do Imbassaí, que é distrito de Maricá. As fotos foram feitas no dia 5 de julho, e entregues pelas mães à polícia no dia seguinte. Além das imagens, as mães também conseguiram uma gravação telefônica onde Rosane teria pedido à filha que assumisse o crime, sob a justificativa de que “não queria que a mãe cuidasse mais dos meninos”. Rosane frisa que, se a filha não falar isso em depoimento, ela mesma vai ser presa.
‘Estou chocada’, diz mãe de bebê que teria sido agredido
Revoltadas com as imagens e com a gravação, as mães das crianças registraram o caso na 82ª DP e no Conselho Tutelar de Maricá. A manicure Samara da Silva Carvalho, de 18 anos, diz que Rosane amarrou os braços dos filho, de 11 meses, com pedaço de pano. Ela disse que antes de colocar o filho na creche ela foi conhecer o local e achou tudo normal.
“Eu ainda estou em estado de choque, estou horrorizada. Eu nem consegui ainda retornar à rotina normal. Estou com licença no trabalho. O meu filho não está dormindo sozinho no berço, ele está dormindo comigo. Ele começa a chorar. Eu também não conseguia dormir em paz, sempre ficava preocupado com ele, ficava vigiando”, disse.
Além do filho de 11 meses, Samara, que é casada com o motoboy Marcelo Marins Silva, de 22 anos, tem uma filha de 3 anos, que também ficava na creche e relatou maus-tratos. Segundo a manicure, a menina dizia que tinha o cabelo puxado, que era agredida com socos e tapas e recebia xingamentos.
“Meus filhos ficaram um mês na creche, e quando vieram os primeiros machucados, arranhados, eu comecei a desconfiar. Aí eu perguntei para ela, e ela disse que ele tinha batido com o rosto na cama enquanto dormia, que era superficial e que não precisava se preocupar muito, e dois dias depois chegaram as fotos”, contou Samara.

Creche está fechada
A gravação foi feita com a ajuda da manicure Renata Batista de Farias, de 36 anos, que mora em frente à creche. Segundo ela, a filha, de 12 anos, que é amiga da filha adotiva de Rosane, costumava brincar no local e presenciou os maus-tratos. Após a divulgação das fotos, a proprietária fechou a creche e fugiu.
“A minha filha também ficou lá durante dez meses no ano passado, mas eu tirei logo que vi que apareceram machucados na boca. Aí a minha (filha) mais velha chegou com a colega e pediu para gravar a conversa dela com a mãe. Ninguém sabe onde ela está, uns dizem que ela está em Itaipuaçu e outros em Maricá. É um absurdo”, disse Renata.
Uma blusa que teria sido usada para amordaçar a criança foi apreendida, assim como fotos e o CD com a gravação da conversa entre Rosane, o irmão e a filha.

Ciúmes
De acordo o advogado de Rosane, Fábio Toledo, as fotos teriam sido feitas pela filha adotiva da dona da creche, que teria simulado as agressões por sentir ciúmes da atenção que a mãe dava às demais crianças. “A filha adotiva começou a se sentir preterida e simulou toda a situação. É uma criança de 14 anos, que não sabe o que está fazendo”, alegou Toledo, destacando que sua cliente está à disposição da polícia e que só saiu de casa porque estava sendo ameaçada por vizinhos e alguns pais.
Ainda de acordo o advogado, Rosane é proprietária da creche há mais de 10 anos e nunca foi alvo de qualquer denúncia no Conselho Tutelar.

Fonte: G1

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