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Maricá: Decisão judicial que parou os Vermelhinhos prejudica população

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A decisão da Justiça, que retirou de circulação os ônibus Vermelhinhos – a pedido das empresas Nossa Senhora do Amparo e Costa Leste – já causa transtornos à população que depende do serviço. No Terminal Rodoviário, no Centro, o movimento de passageiros está reduzido nos horários de pico, comprovando que a maior parte dos usuários do sistema Tarifa Zero são pessoas sem recursos para utilizar o transporte público comum. “Antes não gastava nada para vir para ao Centro, mas agora terei de gastar, sem falar no tempo que se perde a espera dos outros ônibus”, relatou o camelô Ronaldo Coelho, de 53 anos, morador de Inoã, ao lado das baias vazias onde paravam os coletivos da Empresa Pública de Transportes (EPT).

A faxineira Andreza Oliveira, de 39 anos, por exemplo, garante que sua rotina se complicou. “Estava desempregada e comecei a trabalhar recentemente. O Vermelhinho era ótimo porque não precisava de dinheiro para fazer meus serviços, também porque não tinha”, afirma a diarista, que mora em Cordeirinho e deixou de começar em uma casa no Centro nesta quinta-feira (29/10) por falta de recurso. Ela pediu desculpas à pessoa que a contratou e prometeu tentar fazer o trabalho nesta sexta-feira, se conseguir dinheiro para as passagens – a tarifa municipal é R$ 2,70, mas a maioria dos ônibus que percorre o município atende a linhas intermunicipais, o que eleva o valor da tarifa para R$ 4. “Quando minha mãe precisa ir ao médico eu sempre vou junto, só que ela não paga passagem, mas eu sim. Essas empresas não são nenhum benefício aos passageiros. Os ônibus estão velhos e demoram muito para passar”, completou.

Poucos lugares sentiram tanto a suspensão do serviço de transporte público gratuito como a área onde fica o Residencial Carlos Alberto Soares de Freitas, condomínio do programa Minha Casa Minha Vida construído no interior do bairro de Inoã. Para as 1.500 famílias que se mudaram para o local, e todos os vizinhos, os Vermelhinhos eram a única opção de transporte, já que não há linhas licitadas para as concessionárias na área. Agora, quem mora ali, além de gastar o que não tem – o condomínio do MCMV é destinado a famílias de baixa renda inscritas no Cadúnico do Bolsa Família – é preciso caminhar 1,5 quilômetro no tempo até a rodovia.

Morador do conjunto, o ambulante José Ronaldo Pereira de Almeida procura um lugar no Centro para ficar de segunda a sexta-feira, pois ficou difícil pagar as passagens. “Já estou ficando de favor na casa de um amigo, não é todo dia que a gente tem dinheiro”, afirma, calculando em aproximadamente R$ 250 o gasto mensal com transporte. O caso de Deise Félix Queiroz, de 31 anos, é pior: com problemas neurológicos, e sem recursos, a dona de casa deixou de sair do condomínio para as visitas diárias ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPS, vinculado à Secretaria de Assistência Social), no Centro, onde fazia tratamento. O filho, que tinha conseguido fazer um curso gratuito de informática, também parou de frequentar as aulas por não ter dinheiro para a passagem. Leci ainda passou por constrangimento. “Ontem, sem dinheiro para voltar para casa, pedi uma carona ao motorista de uma das empresas na rodoviária. Ele me respondeu: você não anda no Vermelhinho? Então continua na fila aí esperando”, contou.

A falta do transporte gratuito atingiu diretamente, ainda, a família de Djailma Costa, de 24 anos. Dona de casa, com poucos recursos, tem três filhos, um deles em tratamento no Serviço de Atendimento de Reabilitação de Maricá (Sarem), é obrigada a deixar o menino em casa, no MCMV de Inoã. “Como no Sarem eles também nos ajudavam com cestas básicas, fraldas e outras coisas, estamos até sem comida em casa, já que não tenho como ir lá buscar”, acrescentou. Elane Santos, de 43 anos, cuida da mãe, de 71 anos, portadora do Mal de Alzheimer, acostumou-se a ver passar os Vermelhinhos na porta de casa, nas proximidades do condomínio. “Usávamos com frequência para leva-la ao Hospital Conde Modesto Leal e pegar medicamentos”, conta, lembrando que precisa agora caminhar até a RJ-106 ou usar uma van. Outra que sofre é Ana Cláudia Guimarães Rosa, 44 anos. Diabética, quando tem crise, precisa ir de muletas até a rodovia para obter atendimento. O marido de Ilse de Jesus, de 30 anos, usava o transporte gratuito para chegar até o ponto final da linha que vai para São Gonçalo, no Calaboca. “Ele pegava o primeiro Vermelhinho, às 5h, para poder pegar o outro e chegar no trabalho. Agora, vai a pé porque não temos como pagar duas passagens em cada sentido”, conta.

Em outro bairro sem linha regular das empresas, Pindobas, os moradores passam pelo mesmo problema. Leci Vital, de 47 anos, é dona de casa e tem seis filhos. Um deles, com 13 anos, tem deficiência em uma das pernas. Sem direito à gratuidade – pela idade – passou a ter de pagar duas passagens em cada sentido para levar o menino até o local onde recebe acompanhamento médico. “Usava o Vermelhinho também para ir ao Centro sacar o dinheiro do Bolsa Família”, acrescenta ela, que voltou a usar a bicicleta – tendo de cruzar a RJ-106 – para se deslocar. Recém instalada no Bananal, a comerciária Andressa Figueiredo, de 21 anos, lamenta o fim da economia. “Era muito prático para mim, passava bem perto de casa e também tinha uma economia grande. Havia meses em que eu não usava o valor de passagem que a loja me dá, porque não gastava pra trabalhar”, conta a comerciária.

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