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Mulheres de Maricá se unem por Mari Ferrer e o fim da cultura do estupro

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Ato realizado na Praça do Turismo, no Centro da Cidade, reúne integrantes de movimentos sociais para pedir justiça em caso de influenciadora digital

Por justiça a Mariana Ferrer e pelo fim da cultura do estupro, mulheres maricaenses tomaram a Praça Conselheiro Macedo Soares, a famosa Praça do Turismo, no Centro da cidade, durante a manhã deste sábado (7). O caso da influenciadora digital chocou o País ao longo da semana. Vítima, ela viu seu agressor ser absolvido, em setembro, e eximido de culpa. Mas, um vídeo divulgado na última terça-feira (3) deixou grande parte da população perplexa. Mari implorou para que não houvesse impunidade, sem, entretanto, ser atendida.

Participaram do evento deste fim de semana integrantes dos seguintes grupos: União Brasileira de Mulheres (UBM), Movimento Negro Unificado (MNU), União de Negras e Negros Pela Igualdade (Unegro), Movimento Democrático Afrodescendente pela Igualdade Racial (Movidade), Fórum Municipal de Mulheres Negras de Maricá (Femnegras), União da Juventude Socialista (UJS) e Movimento Negro PDT.

“O ato representa uma resposta nas ruas. Não existe estupro culposo. Não existe estupro sem dolo. É triste imaginarmos que o estupro se tornou algo natural na sociedade. A palavra da vítima e sua lucidez é questionada o tempo todo. Não podemos nos silenciar. Precisamos dar uma resposta nas ruas. A sentença judicial do caso da Mariana fere todas nós mulheres! Queremos justiça por Mariana e todas as mulheres! O feminismo nunca matou ninguém, mas o machismo mata e viola nossos direitos todos os dias”, disse Renata Redoglia, de 23 anos, vice-presidente da UJS Maricá.

“Fazemos parte de uma luta histórica. Se tem algo do qual as mulheres, em especial, as negras, sofreram ao longo de sua existência, foi com o estupro. Sou membro do Conselho Estadual dos Direitos das Mulheres do Estado do Rio de Janeiro. Não iremos comungar com as mentes insanas que fazem defesa para a cultura do estupro num país com uma conjuntura na qual uma mulher é vítima de feminicídio a cada nove horas durante a pandemia, onde crianças são vitimas de estupro. Já passou do tempo de pautarmos essa temática”, reforçou Mônica Gurjão, de 50 anos, da Unegro.

Para Mãe Simone, 46, a legitimação da cultura do estrupo vem de cima. A presidenta da UBM Maricá lamenta ouvir discursos negacionistas proferidos por governantes do alto escalão.

“A sociedade está doente. O machismo é legitimado pelo governo que temos. O presidente legitima esse tipo de atitude e pensamento de que a vítima é culpada de ser estuprada. Antes, o machismo ainda era um pouco velado, agora é escancarado. O peso desse ato de hoje é fazer a sociedade e os poderosos entenderem que essa sentença tem que ser anulada, porque não existe estupro sem a intenção de estuprar. É lamentável vivermos num país em que a cultura do estrupo é forte, firme e legitimada pelos seguidores de Bolsonaro”, argumenta.

Estudante de ciência política, Rafaela Lima, 40, afirma que o julgamento de Mari foi, na prática, um segundo ato de violência contra a jovem e alerta: “Isso abre precedente para que outras pessoas usem essa desculpa de que fizeram sem querer fazer, sem intenção. Para que isso seja mudado, falta a desconstrução da cultura do estupro, que é alimentado há anos por uma sociedade que tolera esse tipo de fato. A Mariana estava pedindo socorro pela segunda vez e, pela segunda vez, ela não foi ouvida. Realmente, estou muito preocupada com o caminho que estamos tomando. Precisamos ter um choque de mudança em toda a sociedade”, acrescenta.

Representante do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim), Taisse Costa também aponta que “Mariana foi vítima duas vezes”. Ela destaca que “o agressor foi inocentado sob o argumento de que ele não tinha certeza de que Mariana estava completamente fora de si”.

“Isso abriu um precedente judicial. Não podemos admitir que o sistema judiciário seja conivente com esse tipo de prática”, enfatizou Taisse.

Neste domingo (8), Mariana Recalde completou 35 anos de vida. Na véspera de soprar as velinhas, a economista, integrante da UBM, prestigiou o evento e também cobrou justiça.

“O que aconteceu com Mari Ferrer representa a situação das mulheres estupradas em todo o Brasil. Fazer esse destaque por Mari Ferrer é também protestar pela mudança da situação da mulher. É muito importante a vinda delas aqui, mesmo no meio da pandemia, além da paralisação das agendas das candidatas para realizar essa atividade hoje”, comentou.

Problema enraizado na história

Aos 45 anos, Lene de Oliveira trabalha para que haja uma revolução social. Ela comanda a secretaria estadual de direitos humanos do PT e tenta mostrar possibilidades de direção a ser tomada.

“Nós viemos de uma história patriarcalista e escravocrata, que legitimava o estupro das mulheres. Isso se arrasta ao longo dos anos. Se a gente não tiver a voz das mulheres nos espaços de decisão, nos espaços legislativos e executivos, a gente não consegue ter políticas públicas adequadas para poder trazer esse direito das mulheres. Também precisamos de políticas públicas para trabalhar a ressignificação dessa masculinidade opressora”, sugere Lene.

“É lamentável que a sociedade brasileira, no século XXI ainda olhe a mulher como objeto de uso e os homens se comportem como donos dos corpos das mulheres, como se estivessem no século XVIII, no século XV. Eu posso colocar uma minissaia e, nem por isso, estou dando liberdade a um homem de me molestar. Eu visto a roupa que quero vestir, que tenho direito de vestir, e isso não dá o direito ao homem de me desrespeitar. Ninguém nasce machista, então as mulheres têm também a responsabilidade na criação dos seus filhos”, aponta Aduni Benton, 56, diretora nacional do Movidade.

Protestar sem deixar de se cuidar

A recomendação para o uso de máscaras e álcool em gel foi divulgada já na chamada para o evento pelas redes sociais. A medida visa a segurança de todos diante do cenário de pandemia de Covid-19, doença ocasionada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2).

Batizado de “Justiça Para Mariana e Todas as Mulheres”, o ato deste fim de semana também teve versões em Volta Redonda, Nova Iguaçu, Cabo Frio, Petrópolis, Resende, Rio de Janeiro, Saquarema, Sapucaia, Campos dos Goytacazes, São Gonçalo e Duque Caxias.

Caso Mariana Ferrer

Motivo de manifestações pelo Brasil, como o ato deste sábado em Maricá, o caso envolvendo a blogueira Mariana Ferrer, de 23 anos de idade, voltou repercutir com ênfase nesta semana.

O site The Intercept publicou um vídeo no qual o advogado de André de Camargo Aranha, o acusado, questiona a conduta da vítima. O empresário foi absolvido pelo juiz Rudson Marcos, da 3ª Vara Criminal de Florianópolis (SC), em setembro. A conclusão do promotor sobre o ocorrido foi considerada e chamada de “estupro culposo” pelos que não aceitaram o raciocínio que colaborou para a decisão do magistrado.

Famosos e até clubes de futebol e atletas repudiaram o desfecho do caso em que a jovem influencer acabou sendo humilhada e constrangida ao longo do julgamento. A acusação é referente a um ato cometido durante uma festa em 2018.

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