Maricá (RJ) registra aumento de moradores em situação de rua em 2025
Imóveis abandonados vêm sendo utilizados como abrigos para população vulnerável

Neste primeiro semestre de 2025, Maricá vem registrando um aumento expressivo no número de pessoas em situação de rua. Pelas calçadas, praças e outros espaços públicos da cidade, tornou-se mais comum ver famílias e indivíduos vivendo sem moradia fixa. De acordo com dados municipais recentes, cerca de 237 pessoas encontram-se nessa condição, um contingente bem superior ao observado em anos anteriores. Esse crescimento reflete, em parte, o rápido aumento populacional de Maricá nos últimos anos e a chegada de indivíduos oriundos de outros municípios, muitos dos quais teriam migrado para a cidade após serem expulsos ou pressionados a sair de localidades vizinhas. Autoridades locais apontam que alguns vêm em busca de oportunidades de trabalho ou atraídos pelos programas sociais do município, mas acabam sem ter onde morar, contribuindo para o aumento da população de rua até junho/julho de 2025.
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O fenômeno espalha-se por diversos bairros de Maricá, onde imóveis abandonados e estruturas públicas estão sendo utilizados como abrigo improvisado. No Centro, por exemplo, uma casa desocupada na Rua Capitão Guilherme da Cunha passou a ser ocupada por pessoas sem teto. Em São José do Imbassaí, a área conhecida como Tamarineira também reúne famílias vivendo nessa situação, instaladas precariamente no local. Já em Ponta Negra, alguns abrigos de ônibus tornaram-se dormitórios durante as madrugadas, abrigando aqueles que não têm para onde ir. E em Cordeirinho, um bar desativado na Rua 107 foi tomado por um grupo de moradores de rua, transformando-se em moradia de fato. Esses pontos de ocupação ilustram como a questão deixou de estar restrita ao centro urbano e agora afeta várias comunidades, do litoral à região central da cidade.
A presença crescente de pessoas vivendo nas ruas tem gerado preocupação entre os moradores locais. Em diferentes regiões, residentes relatam sensação de insegurança e temem impactos na ordem pública. Muitos cidadãos se solidarizam com a situação de vulnerabilidade dessas pessoas, mas também expressam receio de que a proliferação de acampamentos informais possa vir acompanhada de problemas de segurança, como pequenos furtos ou conflitos. Há relatos de moradores apontando que alguns ocupantes teriam antecedentes criminais ou estariam usando tornozeleiras eletrônicas, o que eleva a apreensão quanto à segurança no entorno. Comerciantes e vizinhos de áreas ocupadas cobram soluções do poder público, seja para encaminhar essas pessoas a abrigos adequados, seja para reforçar o patrulhamento e evitar situações de risco nas redondezas. Em certos bairros, grupos de moradores têm se mobilizado em abaixo-assinados e denúncias solicitando ações imediatas das autoridades diante do avanço dessa problemática.
Diante desse cenário, a Prefeitura de Maricá realizou um levantamento detalhado para dimensionar a população em situação de rua e orientar suas políticas públicas. O estudo identificou aproximadamente 237 pessoas vivendo nas vias públicas do município até meados de 2025, confirmando um salto significativo em relação aos anos anteriores. Segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania, boa parte dessa população não é natural de Maricá: muitos migraram de outras cidades após operações de remoção em massa ou por acreditarem que encontrariam em Maricá condições mais favoráveis. Entre os recém-chegados há casos de pessoas que perderam emprego e laços familiares, vindas de municípios vizinhos ou até de outros estados. A administração municipal ressalta, porém, que suas ações não têm o objetivo de atrair moradores de rua de fora, mas sim de assistir àqueles que já se encontram em vulnerabilidade na cidade. Os gestores atribuem o aumento a fatores diversos, como a crise econômica e habitacional no país e o fato de Maricá possuir uma rede de assistência atuante, o que acaba tornando o município um refúgio para pessoas desamparadas em busca de ajuda.

Para enfrentar o problema, o governo municipal vem intensificando as políticas públicas de acolhimento e reinserção social dessa população. Equipes do Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS) percorrem as ruas diariamente – inclusive no período noturno – para identificar e abordar pessoas em situação de rua, oferecendo encaminhamento aos serviços socioassistenciais disponíveis. Essas equipes trabalham de forma humanizada, buscando construir vínculos de confiança e levantando as necessidades de cada indivíduo ou família abordada. A rede municipal de assistência conta atualmente com abrigos e centros de apoio preparados para receber essa população: o Centro Pop (Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua), localizado no bairro da Amizade, oferece espaço de convivência, higiene pessoal, alimentação (café da manhã, almoço, lanche e jantar) e atendimento técnico com assistentes sociais e psicólogos. Além disso, a prefeitura mantém duas casas de acolhimento – uma em Araçatiba (Casa de Acolhimento Ernani Gomes Duarte) e outra na Mumbuca – onde adultos em situação de rua podem pernoitar com segurança, tendo acesso a dormitório, banho e café da manhã. Desde dezembro último, uma dessas unidades opera como abrigo noturno ampliado, com cerca de 45 vagas diárias ocupadas, garantindo que ninguém precise dormir ao relento nas noites mais frias. Mais recentemente, foi inaugurado também um abrigo na região de Itaipuaçu, ampliando a capacidade de atendimento no distrito que mais concentra casos. Nesses espaços, os acolhidos recebem não apenas um teto temporário, mas também são conectados a programas de apoio psicossocial, assistência médica básica e oportunidades de qualificação profissional.
As ações da Secretaria de Assistência Social têm apresentado resultados graduais. Nos últimos dois anos, dezenas de pessoas foram retiradas das ruas e reconduzidas a uma vida mais digna. De acordo com dados oficiais, mais de uma centena de indivíduos em situação de rua conseguiram retornar ao convívio social nesse período: muitos foram reintegrados às suas famílias de origem ou encaminhados a moradias provisórias até que recuperassem autonomia; outros retornaram às suas cidades natais com apoio da prefeitura quando manifestaram esse desejo; e diversos conseguiram ingressar no mercado de trabalho, contando com emissão de documentos e cursos de capacitação oferecidos pelo município. Apenas em 2025, 58 pessoas já foram acolhidas ou reintegradas por meio desses programas, demonstrando o esforço contínuo das equipes de assistência. A atuação intersetorial – em parceria com secretarias de Saúde, Trabalho, Habitação, Segurança Pública e até apoio da Polícia Militar – busca garantir que os atendidos tenham acesso a todos os direitos e serviços necessários para quebrar o ciclo de exclusão, desde tratamento contra dependências químicas até inserção em projetos culturais e esportivos da cidade. A população também foi convidada a colaborar, podendo informar locais com pessoas em situação de risco por meio de um canal telefônico e WhatsApp disponibilizado pela prefeitura, reforçando assim a rede de proteção social.
Para o governo municipal de Maricá, o enfrentamento do aumento de moradores de rua requer uma abordagem integrada e humanitária. A atual gestão defende que medidas repressivas isoladas não resolvem essa questão complexa; em vez disso, aposta em políticas sociais coordenadas para oferecer alternativas reais a quem vive nas ruas. No final de 2024, a prefeitura criou um comitê intersetorial dedicado a essa temática, reunindo diversas secretarias e órgãos (como Saúde, Educação, Trabalho, Direitos Humanos e o Centro de Operações de Maricá) com o objetivo de planejar ações conjuntas de médio e longo prazo. Esse grupo de trabalho foi incumbido de realizar estudos e um censo da população de rua, cujos resultados vêm orientando as iniciativas em 2025. Com base nesses dados, novas frentes de atuação foram abertas: além da ampliação dos abrigos, estão sendo desenvolvidos programas de reinserção no mercado de trabalho e projetos habitacionais específicos para essa população. A Prefeitura afirma que continuará investindo no fortalecimento das políticas públicas voltadas às pessoas em situação de rua, buscando reduzir o tempo de permanência nas vias públicas e garantir que cada indivíduo possa reconstruir seus laços familiares e comunitários. A meta, segundo o governo, é assegurar dignidade e direitos humanos a todos, evitando que a exclusão social se perpetue. Enquanto o desafio persiste, Maricá tenta equilibrar a solidariedade e a ordem pública, confiante de que, com planejamento e vontade política, será possível enfrentar o crescimento dessa população vulnerável de forma eficaz e sustentável, sem abrir mão do caráter acolhedor que a cidade preza.