Maricá debate sobre intolerância religiosa
A terça-feira (01/11) marcou o segundo dia do Projeto Nova Geração, com discussões sobre a discriminação e intolerância religiosa. Os debates estão acontecendo no Cinema Público Municipal Henfil, no Centro. O coordenador da iniciativa, pastor Oliver Goiano, é vinculado à Secretaria Municipal Executiva de Políticas Sociais e ressaltou que o projeto visa ajudar principalmente jovens e adolescentes em situação de vulnerabilidade e risco. Com palestras e bate-papos voltados para reflexões teológicas e o levantamento de questões como o extermínio da juventude negra de periferia. “Estamos realizando aqui discussões libertadoras em tempos de intolerância religiosa. Queremos ajudar pastores e lideranças o trabalho de transformação social”, afirmou.
Uma das falas do dia foi a do pastor americano Willian Lawrence Mathis. Para ele, as comunidades de todas as religiões devem se unir em prol de formação de uma única. “Devemos derrubar o muro do preconceito, da intolerância e da discriminação. A partir daí, construir laços de respeito e amor ao próximo”, disse. Outra a falar foi a assistente social e ativista de movimentos negros Roseli Rocha, que mostrou a força dos meios de comunicação ao longo do tempo na formação de uma baixa autoestima dos negros. Para ela, as crianças desde muito cedo recebem as informações impostas pelos comerciais de TV, livros, novelas e programas de auditório. “A rainha dos baixinhos é branca e loira. No sítio do Pica-pau Amarelo, por exemplo, a Anastácia era quem cozinhava, mas a boa receita era da Dona Benta”, ressaltou, referindo-se à obra mais conhecida de Monteiro Lobato.
A ativista apontou o descumprimento da lei 11.645/08, que dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio em todo país. Segundo a assistente social, estes espaços reforçam a importância da cultura africana e contribuem para que as crianças negras possam desde cedo entender e valorizar sua cultura. “Não podemos aceitar o “Branco” como universal e o “Negro” como particular”, afirmou. Para Roseli é necessário entender que os direitos são iguais e todos devem ser contra qualquer forma de opressão.
Um dos problemas levantados durante o encontro foi a relação entre cultura afrodescendente e as igrejas evangélicas. Jongo, danças afro e capoeira são relacionadas diretamente as religiões de matrizes africanas e isso faz com que os negros evangélicos sejam afastados da cultura africana. “É preciso que se separe as expressões culturais da religião”, disse Roseli. A dança, para a ativista, pode ser a única forma de ter contato com a cultura. O pastor protestante Martin Luther King Jr. e a costureira Rosa Parks, ambos símbolos do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, foram citados como exemplos. “As crianças crescem sem estas referências”, finalizou.
A estudante Laís Portela, 17 anos, afirmou que é muito importante abrir estes espaços e falar sobre o assunto. A amiga e também estudante, Evelyn Ferreira, 18 anos, que é deficiente auditiva, acrescentou que não só negros, mas muitos deficientes também são discriminados e tem seus direitos negados. Nesta quarta-feira, (02/11), último dia do evento, os debates começam às 8h com encerramento ao meio dia.