Militares no Rio se organizam para o caso de PM entrar em greve
Tropas militares já estão se mobilizando para o caso de a Polícia Militar fluminense entrar em greve na sexta-feira, 10, a exemplo do que ocorreu no Espírito Santo. Embora o Comando Militar do Leste afirme que há apenas “planejamento” até o momento, fontes confirmaram ao Estado que homens da Brigada Paraquedista estão se apresentando no quartel, para ficarem de prontidão, em caso de necessidade de o Exército assumir a segurança.
Por grupos nas redes sociais, as famílias de policiais militares começaram a se mobilizar. Pelo menos 30 foram formados por WhatsApp. “Nosso objetivo é acampar na frente dos quartéis a partir de 5h30 na sexta-feira, 10. Estamos nos organizando para fazer revezamento”, afirmou uma das organizadoras, que se identificou como Ana. “Estamos cobrando o décimo-terceiro, salários atrasados, além do RAS Olímpico (chamado de ‘bico oficial’, é o pagamento feito pelo Estado para os agentes que trabalham durante as suas folgas). Tem muita coisa atrasada”.
Segundo ela, a adesão será grande dentro dos quartéis. “Eles não podem fazer greve, mas estão revoltados pela forma como os servidores estão sendo tratados pelo governo. E os policiais não vão aceitar que o Batalhão de Choque agrida as famílias como tem agredido os servidores nas manifestações. Não vai ter covardia”, afirmou.
Ana tem 21 anos, dois filhos de 7 e 2 anos e mora na Baixada Fluminense. Com dificuldades para pagar as contas, abriu um pequeno comércio para vender tapioca. “Quando entra o salário, é para pagar o aluguel atrasado. Os empréstimos consignados estão suspensos”, contou ela. “A gente está vivendo praticamente do dinheiro da tapioca”.
Tanto o serviço de inteligência da Polícia Militar quanto o do Exército estão monitorando os grupos. Há preocupação de que a mobilização do Espírito Santo incentive o movimento no Rio. A polícia fluminense, no entanto, não tem histórico de paralisação. “O setor de inteligência está monitorando essa mobilização, mas não temos como medir a adesão. Estamos atentos e continuaremos trabalhando”, afirmou o major Ivan Blaz, porta-voz da Polícia Militar.
A mobilização das famílias de PMs provocou uma onda de boatos nas redes sociais. Um ofício falso do comandante da PM, Wolney Dias, autorizando a greve chegou a ser divulgado. A corporação desmentiu os documentos. Até mesmo um assessor parlamentar do deputado Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa, compartilhou corrente alertando a população para não sair de casa.
O perfil da Polícia Militar no Facebook desmentiu os boatos e fez um apelo à tropa. “A nossa falta causaria males incalculáveis e irreparáveis. Temos a certeza que passamos por um momento muito delicado, mas é preciso avaliar as consequências dos nossos atos. Protestos são legítimos, mas precisamos buscar a melhor forma de reivindicar nossos direitos. Paralisar um serviço essencial afeta toda a população, incluindo nossas famílias. A quem interessa a barbárie?”
Segue a íntegra do texto publicado:
“A violência é um grave problema da nossa sociedade. Dentro desse contexto, sabemos que o Rio de Janeiro possui peculiaridades na área da Segurança Pública, só encontradas aqui. Nós, policiais militares, atuamos diuturnamente nesse cenário e sabemos agir nos casos extremos. A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro é a Instituição que garante a “civilidade”, o ir e vir, o trânsito de pessoas. Só nós conhecemos a realidade nua e crua do dia a dia de policiamento. No entanto, é preciso pensar que o impacto da nossa ausência poderá recair sobre nossos ombros, sobre nossas famílias. A nossa falta causaria males incalculáveis e irreparáveis. Temos a certeza que passamos por um momento muito delicado, mas é preciso avaliar as consequências dos nossos atos. Protestos são legítimos, mas precisamos buscar a melhor forma de reivindicar nossos direitos. Paralisar um serviço essencial afeta toda a população, incluindo nossas famílias. A quem interessa a barbárie?#ValorizeQuemteProtege #ServireProtege”