Maricá

Maricá, atraso milenar

O sistema apelidado de rede de esgoto em Maricá, como o abastecimento de água, é um clássico exemplo de atraso milenar. Segundo o renomado historiador Georges Papatalos (pronuncia-se Papatalós), em entrevista exclusiva, o brasileiro, em particular os governos maricaenses, ainda segue costumes arcaicos para eliminar dejetos mais próximos da Idade Média, que provocaram uma série de epidemias. Naquela época, as ruas eram praticamente valas margeando as ruas e tudo caindo nos rios. Em Maricá, ocorre quase uma cópia do processo com esgoto e lixo entrando pelo manilhamento, através das famigeradas bocas de lobo, e seguindo para rios e lagoas. Papatalos, durante visita a Maricá, ensina que os cartagineses, na época do rei Hanno, há mais de 2 mil anos, possuíam engenharia sanitária, na qual foram pioneiros. “Cartago chegou a ter 300 mil habitantes, no século VII a.C. e era proporcionalmennte como uma Manhattan, de hoje, em Nova Iorque”. Os cartagineses para abrigar tanta gente tiveram que desenvolver técnicas para a construção de prédios de até seis andares, mas equipados com o primeiro grande sistema integrado de água e esgoto. Segundo o historiador, ainda hoje nas ruínas de Kerkuane, podem ser vistos os vestígios de banheiras, pias e chuveiros nas residências, além de um sistema de impermeabilização com cascas de ovo, cinzas e gesso e processo de armazenamento em cisternas “prediais”. A engenharia sanitária dos cartagineses, depois levada para Roma, incluía um sistema de esgoto em que os dejetos familiares eram levados por tubulações de barro e as águas pluviais eram recolhidas em canaletas à beira das calçadas, uma vez que as ruas eram pavimentadas em pedra.
O professor chama a atenção que a implantação dessas redes de recolhimento de esgoto e águas pluviais impediram que houvesse epidemia tanto em Cartago, como em Roma e nas cidades gregas. As epidemias só se tornariam um grande problema nas áreas urbanas, a partir da Idade Média, quando os governos, mais interessados em conquistar terras e poder, deixaram de lado as obras de infra-estrutura. “É uma lição da História. Governos mais interessados em conquistar poder pessoal ou familiar sempre deixam de lado o interesse de suas populações. O resultado é um desmantelamento da economia e logicamente da sociedade”, completou.
Na Idade Moderna, grandes centros mundiais de hoje também tiveram melhora econômica a partir do maior cuidado com infra-estrutura. Na Londres, da metade do século XIX, depois de dois anos do “Grande Fedor”, que fazia com que se andasse de lenço no rosto pela cidade, foi criado um sistema de recolhimento de esgoto, existente até hoje, que eliminou praticamente as doenças na área metropolitana. O mesmo aconteceu logo depois em Paris. No início do século, Nova Iorque investiu no recolhimento de lixo e no esgotamento sanitário, como também fez o Rio de Janeiro de Pereira Passos com o lema o “Rio civiliza-se.” “A História mostra claramente que sem limpeza não há progresso. A sujeira só interessa a governos demagógicos, que se aproveitam da doença para fazer programas assistencialistas de olho nas urnas”, finalizou Papatalos.

[Do Território Livre – Luiz Gadelha lgadelha@leitoreselivros.com.br]

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