Em Maricá, sonho olímpico do Tiro com Arco começou com projeto municipal
Quando a jovem Anne Marcelle Gomes dos Santos entrar nesta quinta-feira (11/08) na quadra do Tiro com Arco, no Sambódromo, pelos Jogos Olímpicos Rio 2016, a participação coroa uma iniciativa bem sucedida de formação de atletas dentro das escolas. Graças a um projeto de base iniciado pela Prefeitura em Maricá, em 2012, mais de mil crianças e adolescentes – o que inclui Anne e outros dois atletas hoje integrantes da seleção olímpica – passaram pelo Centro de Treinamento da Confederação Brasileira de Tiro com Arco (CBTArco) no bairro de Itapeba.
O modelo reuniu os principais elementos para o desenvolvimento do potencial olímpico -comprovado pelo desempenho dos atletas nas competições que antecederam aos Jogos: o poder público municipal cedeu a área para a instalação do CT, importou os equipamentos (kit correspondente a 30 arcos, além das flechas, alvos, miras, protetores e dedeiras) de primeiro nível para que os atletas pudessem treinar e envolveu os alunos da rede pública municipal, através da qual a “peneira” foi realizada. Ministério do Esporte e a própria CBTArco, com o processo técnico de desenvolvimento, completaram o processo. A medida permitiu que os alunos, mesmo iniciantes, pudessem praticar com material de mesmo nível dos utilizados seus competidores.
O valor total, de R$ 2,6 milhões, previa, além disso e da construção dos CTs, a implantação de núcleos de base do esporte e a contratação de equipes técnicas e de pessoal administrativo, o que foi feito. O Núcleo de Base do Tiro com Arco, em sua primeira fase, contou com o suporte de quatro instrutores e quatro monitores separados respectivamente por escolas (núcleos) que, para otimizar a massificação, se tornava rotativo (seis meses em cada escola).
As crianças recebiam a visita dos instrutores em sala de aula e aqueles que se interessavam em praticar o esporte tinham o transporte fornecido pela Prefeitura para se deslocarem até o CT após o horário das aulas. Depois eram trazidos de volta à escola. De lá para cá, o sucesso de vários atletas revelados pelo projeto ainda motiva a garotada.
Atualmente as aulas de base são oferecidas gratuitamente para alunos da rede municipal de ensino cinco vezes por semana. A duração média do treino é de duas horas, com acompanhamento de um educador físico, da coordenadora técnica da confederação e de mais quatro professores do projeto da Secretaria Municipal Adjunta de Esportes, que buscam melhorar a performance dos atletas maricaenses.
Deste grupo, o arqueiro Marcelo Filho foi descoberto entre os alunos do Centro Educacional Municipal Joana Benedicta Rangel, no Centro. Outros, como o vice-campeão mundial e esperança olímpica Marcus Vinícius Almeida, além de Anne Marcelle, estão entre os primeiros revelados e lapidados pela estrutura montada para o aprimoramento de atletas de médio e alto rendimento. Após o fim da participação do Ministério do Esporte, em abril de 2013, a Prefeitura seguiu patrocinando o projeto buscando nas escolas da rede municipal de ensino (e nas unidades estaduais). Hoje, graças à continuidade do modelo, cerca de 50 alunos treinam no CT de Itapeba.
Para os coordenadores Gilmar de Paula e Mônica Favarin, que integraram a primeira equipe do projeto, ver o quão longe chegaram aquelas então crianças é motivo de orgulho. “Eles começaram só puxando os elásticos, meio que brincando, e agora vão disputar medalhas olímpicas. É muito bom saber que você colaborou para este resultado”, avalia Gilmar, que atualmente coordena outro projeto da secretaria no município, o Navegar, que incentiva o desenvolvimento e o surgimento de atletas em esportes náuticos. Mônica, por sua vez, segue ligada ao Tiro com Arco e também atua no Programa Segundo Tempo (do governo federal). Para ela, a cidade se tornou uma referência quando se fala na modalidade. “Hoje, as pessoas lembram imediatamente de Maricá ao falarem de Tiro com Arco, mas o mais importante para nós é que os pais das crianças vêem o projeto como algo que deu muito certo, a despeito de toda a desconfiança que havia no início”, lembra ela.
Nesses quatro anos, atletas de países como Coréia do Sul, Rússia e Estônia já vem fizeram intercambio no CT de Maricá visando as Olimpíadas. Com isso, os participantes do projeto também puderam travar contato com esportistas de primeiro nível, o que também trouxe benefícios ao desenvolvimento de todos.